Dia Mundial da Filosofia 2015
Mensagem de Irina Bokova, Directora-Geral da UNESCO
A convicção de que a filosofia pode trazer um contributo essencial para o bem-estar da humanidade, esclarecer os desafios complexos e fazer progredir a paz está no centro do Dia Mundial da Filosofia.
Uma vez, o historiador Henry Brooks Adams disse ironicamente «Filosofia: respostas ininteligíveis para problemas insolúveis».
Ao contrário, a UNESCO considera a filosofia como um vector de emancipação individual e colectiva. Porque pensar ao mesmo tempo que se reflecte sobre o facto de pensar, é filosofar, e nós fazemo-lo constantemente, movidos pelo motor mais espontâneo do engenho humano, a saber, o espanto.
A filosofia é o diálogo suscitado por este espanto, tecido ao longo dos tempos com a arte e a literatura, que anima os debates consagrados aos desafios sociais e políticos, e que é praticado por todos, sem formação especializada, bem para lá das salas de aula.
Esta é a mensagem da UNESCO hoje: devemos celebrar alto e bom som os méritos da filosofia, a fim de despertar o interesse de cada mulher e de cada homem e sobretudo de cada rapariga e de cada rapaz. Devemos dar a conhecer, em grande escala e de diferentes modos, as maravilhas da filosofia.
Este mesmo é também o objectivo da cátedra UNESCO sobre a prática da filosofia com crianças que acaba de ser criada na Universidade de Nantes (França), fruto de uma cooperação de longa data entre a UNESCO e as redes de professores de filosofia.
Nós trabalhamos no sentido de conseguir que a filosofia, a mais antiga das disciplinas, chegue a um público cada vez mais amplo graças às tecnologias de ponta, por exemplo ferramentas de ensino através da Internet, inspiradas no “Manual de filosofia: uma perspectiva Sul-Sul da UNESCO (2025).
Este ano, todas as actividades de celebração do Dia Mundial da Filosofia colocarão pela primeira vez o acento na utilização das novas tecnologias da comunicação para suscitar o interesse do público por todo o mundo.
Em Setembro, os dirigentes de todos os países adoptaram o Programa de desenvolvimento sustentável no horizonte de 2030, que definiu perspectivas novas para as populações, em matéria de prosperidade e paz, e para o planeta.
Para que este programa possa dar frutos, será necessário mobilizar todas as competências associadas à filosofia – rigor, criatividade e pensamento crítico. A sustentabilidade exige que repensemos a relação que nós mantemos com o planeta. Deveremos adoptar novos modos de acção, de produção e de comportamento. Para isso, a filosofia e o conjunto das ciências humanas terão um papel essencial a desempenhar.
A UNESCO foi criada há 70 anos num mundo em reconstrução após uma guerra devastadora, na base duma nova concepção da paz ao serviço da solidariedade intelectual e moral dos povos. A filosofia sempre esteve no centro do mandato da Organização, com o objectivo de oferecer a cada mulher e a cada homem a ocasião de se descobrir e de descobrir os outros, de compreender as transformações e de tirar partido delas a fim de tornar possível um futuro melhor para todos.
Mahatma Gandhi disse um dia: «Toda a nossa filosofia é seca como o pó se não se traduzir imediatamente em acto vivo de serviço».
Esta tem sido sempre a mensagem da UNESCO, e nunca foi tão importante como hoje.
Irina Bokova,
Directora-Geral da UNESCO
(Trad. José Alves Jana)